terça-feira, 14 de setembro de 2010

NA REVISTA VICE MAGAZINE - PIRATARIA S/A - A Época de Ouro da Pirataria Musical



ENTREVISTA POR MILES RAYMER
ILUSTRAÇÃO POR JIM KREWSON

Em 1969, dois jovens hippies chamados Ken Douglas e Dub Taylor escutaram um material inédito de Bob Dylan em uma das estações de rádio mais bacanas de Los Angeles. A estação havia adquirido uma das cópias ilícitas do The Basement Tapes que, na época, circulavam pelo underground. Superfãs de Dylan, Douglas e Taylor resolveram ter a própria cópia. Mas, como eram espertos e ambiciosos, decidiram ter suas cópias prensadas em vinil, um objeto físico mais marcante com um som mais refinado e de vida útil mais longa. Então prensaram vários vinis. Ficaram com quatro cópias da primeira tiragem de 100 e colocaram as outras 96 à venda em uma loja de discos de Los Angeles frequentada por hippies para cobrir os custos de prensagem. Os discos foram todos vendidos quase que imediatamente, apesar de a capa ser inteira branca e os rótulos terem sido reaproveitados de umas sobras da fábrica. Douglas e Taylor prensaram mais vinis, assim como várias outras pessoas que pegaram carona na ideia deles. Great White Wonder, como ficou conhecido o disco sem título, não oficial de Bob Dylan, acidentalmente deu origem à indústria da pirataria.

Nos melhores casos, os selos pirata eram amálgamas esquisitos de fã clube, projetos faça-você-mesmo e empreitada capitalista de guer-rilha. Eram administrados por pessoas realmente obcecadas pelos artistas, cujos shows gravavam e cujas coleções de fitas assaltavam. Mas os pirateadores também eram malandros no que dizia respeito aos negócios e a driblar a lei. O livro definitivo sobre o assunto, Bootleg: the Secret History of the Other Recording Industry, de Clinton Heylin, lembra o filme Profissão de Risco, com Johnny Depp, refeito como um veículo para geeks de música, com personagens de nomes esquisitos como Rubber Dubber e John Wizardo tendo uma série de ideias para fugir do controle das autoridades e fornecer às pessoas discos ao vivo do The Who e sessões de estúdio dos Beatles não lançadas comercialmente.

Douglas e Taylor fundaram o selo Trademark of Quality, que lançou uma série impressionante de discos, incluindo o primeiro show ao vivo pirateado da história, Live’r Than You’ll Ever Be, dos Rolling Stones. O selo fechou, abriu de novo e voltou a fechar as portas antes que Douglas decidisse sair da brincadeira em meados dos anos 70 e se mudar para a Nova Zelândia para tentar a vida como escritor. Há algum tempo, ele vem escrevendo um blog sobre suas experiências no ramo da pirataria. Foi através desse blog que o encontrei.

Vice: Você cresceu na Califórnia, certo?
Ken Douglas: Isso.

Me conte um pouco sobre como você se envolveu no ramo de gravações de discos. Você começou com o lado mais legítimo da coisa, não?
Eu nasci nesse meio. O meu pai era proprietário da Saturn Records, que, na época, era a maior compradora de discos fonográficos a Oeste do Mississipi. Pelo menos foi o que me disseram.

Então você entrou nessa como quem entra nos negócios da família?
Sim.

Como você começou a distribuir os seus primeiros piratas?
Dub tinha um amigo que desertou do exército quando estava para ser enviado ao Vietnã, e ele começou a vender para nós. Mas ele cometeu um erro. Ele vendeu os primeiros discos num lugar chamado Vogue Records, na Hollywood Boulevard, e o cara que era dono do estabelecimento, um sujeito chamado Bill Bowers, comprou todos os discos. Então achamos que tínhamos um sucesso nas mãos.

E vocês mandaram fazer mais cópias imediatamente?
Sim, mandamos. Fizemos mais 300 cópias e vendemos, e depois mais duas prensagens de 300.

Você percebeu logo de cara que isso era uma coisa que poderia dar dinheiro?
Não. Porque, sabe, éramos muito jovens. Acho que eu tinha uns 20 ou 21 anos. O Dub tinha a mesma idade que eu, talvez um ano a menos. Pensávamos que o que estávamos fazendo fosse ilegal. Achávamos que nos meteríamos em uma enrascada e o pessoal das lojas nos conhecia, então mandávamos alguém no nosso lugar. Nesse meio tempo, outros caras abriram um selo pirata por causa do nosso, e estavam fazendo muito dinheiro. Eles contrataram advogados que descobriram que aquilo não era contra a lei porque jamais havia sido feito antes. E aí passaram a ganhar a vida assim.

Parece que na época tinha uma variedade de artistas como o Bob Dylan, os Beatles e os Stones, com os quais as pessoas eram muito obcecadas, e também algumas leis que possibilitavam que alguém que pirateasse gravações se safasse.
É. Mas nós não sabíamos disso. Estou tentando lembrar como eram as coisas quando eu tinha 21 anos de idade. No começo não fazíamos aquilo por dinheiro, fazíamos para ter cópias dos discos, e daí os Stones iam fazer um show e o Dub decidiu gravar. Então compramos um gravador Uher e um microfone Sennheiser. Não ganhamos muito dinheiro com The Great White Wonder, do Dylan. Mas ganhamos bastante com Live’r Than You’ll Ever Be, dos Stones.

Foi então que as coisas começaram a decolar?
Não sei. Nem sei o que é decolar. Comparado com o quê? Quer dizer, para nós foi bom. As coisas deram certo porque, lembre-se, nós ainda éramos muito jovens. Então, sabe, os discos tinham saída. Não estávamos fazendo milhões de dólares, nem mesmo dezenas de milhares. Mas estávamos indo bem. Dava para pagar o aluguel. Não estávamos comprando imóveis nem nada do tipo.

Li um post no seu blog sobre como o Dub estava vivendo bem...
Bom, OK. Hoje estou mais velho e sei o que é viver bem. Achávamos que estávamos ganhando uma puta grana. Tínhamos carros novos. Eu tinha uma moto. Mas eu ainda trabalhava. Continuei no meu emprego por anos. Eu trabalhava na Saturn como assistente social durante o tempo todo em que fizemos os discos. Trabalhei até, sei lá, 1975 ou 76. Não quero que você se confunda. Não quero que você ache que ganhamos um milhão de dólares.

Não achei que vocês ficaram milionários, mas parece que vocês viviam bem, para caras tão jovens.
Sim. Fomos à Europa umas duas vezes. Estávamos numa boa.

Você já declarou que não fizeram pela grana, mas por amor.
Bom, para o Dub era por amor. Para o Andrew, que veio depois, era por amor. Não acho que era por amor no caso de outros pirateadores como a Rubber Dubber ou Norty e Ben. Acho que eles estavam nessa pela grana. Se bem que o Scott parecia gostar de música pra valer, então acho que deva ser incluído nessa. Ele era um cara da Rubber Dubber. E para mim, no final, não era mais por amor, era por dinheiro.

Você se lembra quando deixou de ser por amor e passou a ser por di-nheiro?
Sim, em 1972 e 73. Mas eu sempre soube, ao contrário da maioria das pessoas que faziam a mesma coisa e, já escrevi isso em alguns blogs, que era roubo. Nunca pensei, nem por um segundo, que tivéssemos o direito de dar para as pessoas música de graça.

Por outro lado, há uma aura meio romântica e fora-da-lei no negócio da pirataria. De não deixar que as empresas, ou mesmo os músicos, decidam o que vai ser lançado. É como se, já que os fãs querem uma gravação ao vivo ou The Basement Tapes do Dylan, os pirateadores liberam para eles. Isso é uma forma excessivamente romântica de encarar a questão, ou havia mesmo um pouco disso?
Havia sim, pelo menos no que diz respeito a Dub e a várias outras pessoas. Era isso mesmo. O Dub realmente curtia Bob Dylan.

Você disse que trabalhava na Saturn quando fez alguns dos discos pirata. Como era ter uma vida dupla, trabalhando nos dois lados da indústria, com o lado legítimo e o subversivo, ao mesmo tempo?
Bom, no começo era bem estranho porque, por exemplo, eles diziam que estavam tentando nos pegar, mas o nosso vendedor na Capitol sabia quem éramos e o que estávamos fazendo, mas nunca disse nada. Uma boa parte dos clientes que vinham comprar conosco era dono de loja que sabia o que fazíamos e nunca disse nada. Acho que você poderia chamá-los de caras bacanas—que tinham as lojas de discos a $2.99. Na época, os discos eram vendidos por $4.98 e havia muitos... não quero dizer hippies, mas jovens... hippies, acho, que tinham lojas de discos e os vendiam por $2.99. Eles vendiam discos como os que fazíamos. Eles sabiam quem eu e Dub éramos e nunca falaram nada. Mais e mais pessoas ficaram sabendo, e nunca falaram nada. Não era como se tivéssemos vidas duplas.

Você acha que conseguiu usar algumas das habilidades, conhecimentos e contatos que adquiriu no negócio regular que você fazia e aplicá-los à pirataria?
Não.

Não tinha nada a ver?
Não. Depois do segundo disco, depois de Live’r, nós simplesmente entrávamos nos estúdios de gravação. Quando fizemos Stealin’ [o segundo pirata do Dylan], simplesmente entramos em um estúdio de gravação. O cara colocou para tocar e gritava, “Isso é Bob Dylan!”. Todo mundo, todos os produtores e todo mundo no estúdio, parou tudo e veio ouvir o disco que havíamos masterizado, sabe? E todo mundo achou legal. Todo mundo sabia que a gente não trabalhava para o Bob Dylan.

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Fonte: http://www.viceland.com/br/v2n7/htdocs/bootlegging-inc-483.php?source=db

MinC divulga balanço sobre consulta pública da Lei de Direitos Autorais

MinC divulga balanço sobre consulta pública da Lei de Direitos Autorais
Por Redação do IDG Now!*

Por Redação do IDG Now!*
Publicada em 09 de setembro de 2010 às 18h46
Atualizada em 09 de setembro de 2010 às 18h47

O Ministério da Cultura divulgou nesta quinta (9/9) um balanço da consulta pública do anteprojeto da Lei de Direito Autoral. Em 79 dias, foram recebidas mais de 8 mil propostas de alteração do texto. No entanto, apenas 58% foram contribuições com argumentação – o restante foi apenas manifestação de concordância ou discordância com a discussão.

A maioria das contribuições foi sobre o primeiro artigo, que define os assuntos sobre os quais a lei dispõe e propõe equilíbrio entre os direitos do autor e do consumidor. As sugestões pedem uma hierarquização dos assuntos.

Segundo o ministro da Cultura, Juca Ferreira, a mudança será feita para deixar claro que a principal função da lei é a defesa do direito do autor, ainda que tente garantir que o cidadão tenha acesso à cultura e a obras de interesse público.

Além das referências ao direito do consumidor, a licença não voluntária e a permissão do uso de obras como recurso criativo foram os pontos mais polêmicos. A licença não voluntária se aplica às artes visuais e aos livros e regula situações excepcionais em que não há interesse do autor em levar a obra a público, mas há interesse público naquela obra. Exemplo é a obra de Cecília Meireles, que não é publicada há dez anos devido a disputas judiciais entre os herdeiros.

Já o conceito de “recursos criativos” foi considerado muito abrangente para definir situações em que obras possam ser usadas com fins educativos.

Direitos Autorais

Em entrevista coletiva, o ministro garantiu que a arrecadação e a distribuição dos direitos autorais continuarão sendo privadas. Desde a divulgação do projeto, muitos artistas têm se manifestado contra a nova lei, alegando que ela promoveria uma intervenção do Estado na produção e distribuição de cultura e em associações de artistas.

“Temos total confiança na classe para arrecadar e distribuir seus direitos. Sabemos que isso cabe exclusivamente aos próprios autores”, disse o secretário de políticas culturais do ministério, José Luiz Herêncio.

O governo deve criar uma instância administrativa que agilize a resolução de conflitos, nos moldes do extinto Conselho Nacional dos Direitos Autorais. Hoje, mais de 10 mil processos por direitos autorais tramitam na Justiça, a maioria relacionado à música.

Segundo o ministro, a falta de confiança e transparência dos atuais mecanismos de arrecadação e repasse é uma das principais queixas da classe artística. O anteprojeto deve resolver isso ampliando o controle do autor sobre esse sistema, o que levaria a um aumento nas arrecadações.

Esse aumento seria responsável pelo crescimento de setores da economia ligados à cultura, o que é, segundo o ministro, o maior objetivo do ministério. “A economia da cultura já é a segunda maior nos Estados Unidos e a terceira na Inglaterra. Nossa meta é que em dez anos ela se torne no Brasil tão importante quanto as commodities porque é uma economia pouco poluente, que gera muito emprego e renda e agrega valor”, afirmou.

A expectativa é que ainda este ano o ministério termine a análise de sugestões da consulta pública, discutindo as alterações com os setores envolvidos e apresente o anteprojeto no Congresso.

* com informações da Agência Brasil

Fonte: http://idgnow.uol.com.br/internet/2010/09/09/minc-divulga-balanco-sobre-consulta-publica-da-lei-de-direitos-autorais/
 
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